Fotos Rildo Amorim |
Texto: Creuza Medeiros
Savana nasceu em Corumbá, até então Mato Grosso. Mas logo depois
de ter vindo pra Mato Grosso, o estado foi dividido, em 1977. Os pais são de
Fama, Sul de Minas Gerais. A mãe, Maria das Graças, é farmacêutica e
pesquisadora. E parece ter vindo do pai o talento artístico da estilista.
Sidney Afonso compõe, toca e canta.
O nome artístico foi escolhido pela mãe quando estava grávida,
num romance. Pronto, o nome nem precisou ser revisitado, saiu da certidão de
nascimento direto para a etiqueta de sua grife. Mas, a infância simples foi decisiva para as escolhas de Savana.
Dos sete aos 14 anos ela morou em Cáceres, na beira do Rio Paraguai, onde sua
ocupação era ir pra escola e curtir o remanso do rio. Como era tímida, encontrou
um jeito de falar por meio dos desenhos. “Sempre adorei técnicas manuais”,
revela.
Sua memória mais antiga se recorda da primeira magia com a
costura. Aos nove anos, brincava com uma amiga e saiu uma linda boneca de papel,
com papéis coloridos e estampas, era uma roupa para a boneca Barbie. E logo Savana começou a atacar silenciosamente e
misteriosamente as toalhas de estimação da mãe Maria das Graças. Coitada, a mãe
achava lindas as roupinhas novas das bonecas de Savana, mal sabia que eram
suas toalhas históricas. O que aconteceu quando a mãe descobriu a travessura da
menina? Nada. “Ela serviu de combustível aos meus sonhos. O fato virou piada”,
recorda Savana.
Depois disso Savana passou a vender vestidos para as bonecas das
amigas e nunca mais parou. A mãe comprou uma máquina de costurar a mão (que ela
tem até hoje), mas as pilhas não duravam nada. A ansiedade para ver as
roupinhas prontas era tanta que Savana costurava a mão mesmo.
Aos quinze anos conheceu seu primeiro namorado, mas não durou
muito, em seu tempo livre Savana preferia costurar a namorar. Na verdade, o primeiro sonho de Savana foi ser bailarina,
como não tinha dinheiro pra pagar o curso, sabe qual foi a saída? Costurar as
roupas de bailarina para as amigas e ganhar uns trocados. As saias rodadas de
tule com cintura de elástico estão vivíssimas na memória dela.
Daí veio customização de camisetas para as amigas na escola. Ela
comprava uma peça a sete reais, escrevia frases, colocava detalhes e vendia a R$
13. Mesmo passados 20 anos, a estilista lembra desses mínimos detalhes. Aos dez
anos, ela se matriculou num Curso de Corte e Costura, mas não aguentou a monotonia
dos mesmos riscos repetidas vezes e resolveu fazer pelo curso à distância, que
vinha pelos Correios. E deu certo.
Embora a mãe de Savana não tenha se dedicado tanto à costura, um
fato foi marcante na vida dela e da filha, agora estilista. Dona Maria das
Graças, aos 18 anos, tinha um baile de formatura pra ir, mas não tinha roupa
nova. A avó de Savana, sem grana pra comprar, consentiu que a filha fizesse uma
roupa, e sabe de onde veio o tecido? De sua cortina de renda amarela. A
vontade de ir à festa foi maior, mesmo
sem saber técnicas, a mãe da estilista passou um dia transformando a cortina num
elogiado vestido. “Foi um vestido tomara que caia com fitas e babados”, conta
Savana, orgulhosa.
Casamento,
profissão e filhos – Em 1996 um fato novo mudou a vida de Savana. Então morando em
Mirassol D´Oeste, cursando o terceiro ano do Ensino Médio, ela conheceu seu
marido, Flávio Fachone, já então
promotor de Justiça. Foram dois anos de namoro, veio o casamento e a mudança
pra Cuiabá, onde Savana teve o filho William, 15 anos, e a filhota Julia, 13.
Por influência do marido, ela fez Direito e chegou a trabalhar
durante cinco meses como advogada e cinco meses como assessora, mas não tinha
jeito, era a arte manual que falava mais forte. Após estudar um ano inteiro pra
um concurso da defensoria e ter sido reprovada, Savana entrou em depressão. E, a saída veio com o
Curso de Moda. “Aí me encontrei, foi fácil porque eu já desenhava e produzia,
só aprendi as técnicas e conceitos”.
E logo depois da formatura ela fez Mestrado em Design, Arte e Moda
na Faculdade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Foram dois anos de dedicação, sendo
que no primeiro ela viajou dois mil quilômetros todas as semanas pra frequentar
as aulas. E mais uma vez o companheiro Flávio cuidou das crianças pra ela
realizar o sonho de ser uma estilista renomada.
Savana é uma estilista defensora da personalização. “Faço a
modelagem no corpo da cliente, é uma verdadeira arquitetura da roupa, sou
contra a massificação”.
Adepta de Chanel, Savana tem como “uniforme” preferido o preto e
branco, ela é daquele tipo chique mesmo sem um batom e com chinelo nos pés. É
uma clássica despojada. Savana conta que sua costura preferida é um vestido
preto, solto, tipo kaftan e que fica bem em qualquer corpo. “O diferencial
vem com o acessório”.
A estilista é uma estudiosa inveterada, passa praticamente 24
horas em busca de inspiração na arte, pesquisa tudo sobre moda na internet e
até faz curso de bordado e tricô pela rede.
Para facilitar o trabalho, o ateliê dela é exatamente ao lado do
quarto. Mas engana-se quem acha que Savana não se arruma para trabalhar. Atrás
da porta do ateliê ficam impecavelmente organizados seus colares. Ela sai com
sua peça básica e se transforma com o poder dos acessórios.
O lazer preferido da estilista é o trabalho. A brasilidade é sua
referência maior. A inspiração? “Busco na arte e cultura”. Meu ícone maior da
moda é Coco Chanel e no Brasil o Ronaldo Fraga. “Na cultura encontro inspiração para meu trabalho. Nela me
deparo com hábitos e costumes de uma geração inteira. As memórias e histórias
de vida me encantam e me instigam a investigar cada vez mais. A riqueza do
encontro fantástico entre o passado e o futuro de um grupo”, revela.
E os vestidos estão registrados de forma profunda na vida de
Savana. Quando foi buscar o vestido escolhido pra seu casamento, tinha sido
alugado para outra noiva, mas não é de ver que o brinco de pérola presente do
marido combinava mesmo era com o vestido da outra noiva? E assim ela foi feliz se
casar com o vestido de outra. E deu sorte. De sonho em sonho Savana vem
alcançando seu objetivo de ser uma estilista conceituada. Todo seu conhecimento
já é compartilhado com crianças que fazem curso de desenho em seu ateliê.
No dia da entrevista, uma segunda de manhã, como boa descendente de mineiros, a estilista Savana Leão nos esperava com uma mesa repleta de gostosuras. Antes de começar a entrevista, tratou de colocar um belo par de brincos de pérolas, exatamente como Chanel, sua referência máxima de elegância.
Savana é sempre vibrante como o amarelo da cortina de renda de
sua avó e elegante como o branco e preto de Chanel.
Serviço: O Ateliê Savana Leão fica na Avenida Itália, 905,
Cuiabá, Mato Grosso. E-mail: ateliersavanaleao@gmail.com.
Website: www.savanaleao.com.br.
Facebook: Ateliê Savana Leão. Fone: (65) 9972.7928.
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