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segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A vida é uma fumaça. Relato emocionante da sobrevivente Maria Clara.

Gosto de histórias de superação, de gente. Hoje vou falar da Maria Clara Vilela e da Letícia, duas guerreiras sobreviventes do incêndio do Condomínio Sunset Boulevart, em Cuiabá, na semana passada. Maria Clara mora no último andar e naquele dia, ao contrário de todos os outros, não deixou o celular no silencioso. E poucos dias antes passou o número do celular dela para uma vizinha. 

O relato emocionante de Maria Clara é um presente para reflexão profunda do que é a vida e o que realmente tem valor. Não me canso de lembrar das mãos fofas da Letícia, guiadas tão bem por Deus e pela mamãe Maria Clara. Me orgulho dessa família, gente do mais alto valor.



"Dia 14 de outubro de 2014. Dormíamos profundamente quando a energia acabou deixando à mostra a madrugada quente quase normal de Cuiabá. Acordei com calor. Letícia não acordou, anjo não sente calor. Revirei na cama algumas vezes, voltei a dormir profundamente, também sou filha de Deus. Algum tempo depois, ou nenhum, fui surpreendentemente acordada pelo toque feio do celular.

 Atendi sem surpresa, maldizendo a hora anterior em que havia tirado do silenvioso, pois sabia que seria um suposto filho sequestrado prestes a ter a orelha cortada pelo sequestrador hospedado em algum presídio de segurança máxima, quando rolou o breve diálogo : - MARIA CLARA, É Adazeli VOCÊ ESTÁ ONDE, EMBAIXO? - AHNNNN?????!!!!! - ENTÃO DESCE, QUE O PRÉDIO TÁ PEGANDO FOGO!!!! . Momento de terror n. 1. Pulei da cama, Leticia já estava pulando, confusa. Disse que devíamos descer logo, passei a mão num vestido herdado do tempo da núltima gravidez que estava à vista e corremos para a porta da cozinha com a Leticia já perguntando se levaríamos a Khloe. 
Sim, ela também. Abri a porta e nos deparamos com a fumaça que já queria entrar sem se anunciar.

Momento de terror n. 2. Puxei Leticia pela mãozinha que carregava em seu pequeno colo a pesada Khloe e avançamos a fumaça preguiçosa adentro. Atingimos a porta corta fogo ( só corta o fogo!), passamos o hall do elevador de serviço e saímos por outra porta que só corta fogo e nos deparamos com o topo da extensa escadaria dos 23 andares, coberta pela já não tão calma e preguiçosa fumaça. Momento de terror n. 3 e que nos acompanhou pela longa jornada pela sobrevivência . Alguns degraus abaixo, Khloe agitada e com medo, Leticia parou e pediu ajuda para levá-la.

Não, pensei, não conseguiremos ser rápidas se a levarmos no colo! Disse para soltá-la que nos seguiria sem dúvida. Leticua relutou, mas dei-lhe um puxão então seguimos chamando pala Khloe, que não nos acompanhou. Corremos, Leticia caia, tropeçava, sua mãozinha era quase quebrada pela minha, os corrimões orientavam nossa descida desesperada. A todo momento eu não sabia o que encontraríamos no próximo lance de escadas. A fumaça já não nos acolhia terna, estava mais densa, irritava nossos narizes, passei então a engolir o ar pesado. Não víamos os números, não sabíamos o quanto havíamos percorrido, apenas corríamos. Ao longe ouvia uma criança choramingo e a voz de um homem
.
 A certa altura, provavelmente no 12, encontramos três bombeiros subindo pesadamente as escadas. Não senti alívio, sabia que ainda não estava terminado. Passaram por nós dizendo que poderíamos descer com calma pois não havia mais fumaça. Não, não diminuímos o ritmo. Em seguida passamos pelo síndico do prédio subindo como um zumbi. Até que chegamos ao térreo , algumas dezenas de metros depois nos surpreendemos ao ver todos os moradores embaixo olhando para cima, acenando e gritando para que todos descessem.

 Era o alarme de incêndio que doava das bocas de quem havia passado pelo que passamos. Encontramos as pessoas, procurei por conhecidos, pisávamos descalças o asfalto quente . Não encontrei a Adazeli Oliveira que nos salvou. Próximos capítulos à noite, tenho que mexer o doce, o mundo não parou de girar.

.. E para finalizar o relato anterior, eis o que se sucedeu. Leticia reclamava a perda de sua fiel escudeira, como costuma se referir, então sugeri que no sentássemos a lado do portão do prédio para que a Khloe nos encontrasse com facilidade em meio ao tumulto. Minutos depois a brava Khloe chegou, cheirando os diversos pés até que nos reencontrou. Alívio, nossa mini família estava reunida. Letícia não a largou mais. Adazeli Oliveira e sua família foram resgatados muitas horas depois por meio da escada Magirus, sãos e salvos.

 Outras famílias ainda permaneceram aspirando a fumaça tóxica, alguns refugiados no banheiro, varanda, janelas, até serem resgatados, alguns desceram de rapel, magirus, helicóptero. Ontem, diversas pessoas procuravam hospitais, inclusive eu. No PA fui informada que estou com pneumonia. Há quem diga que não, ainda sob investigação. Menos mal. Mas por tudo.... Obrigada Deus pelas vidas preservadas. Obrigada Adazeli por ter dado ouvidos à voz de Deus. Obrigada Leticia por ter confiado cegamente sua vida a mim, por não ter chorado, relutado. Apenas me estendeu sua mãozinha e se deixou guiar.
Obrigada aos valentes homens do Corpo de Bombeiros que deram a vida e saúde para salvar nossas vidas! Obrigada aos AMIGOS de trabalho da Justiça Federal de Mato Grosso Loani Torres,Dovair Carmona Cogo, Julyana, Laura Moraes, MM VCPG, pelo pronto e irrestrito apoio financeiro, emocional, estratégico e logístico.


 ObrigadaJorenice Ribeiro pela carinhosa, pronta, segura e confortável (e sem ônus?????) acolhida. Disso tudo tirei algumas conclusões, as quais enumero aleatoriamente: 1) nunca, jamais, em hipótese alguma, durma com roupa velha por ser confortável !!!!!!! 2) nunca, jamais, reutilize a roupa da última gravidez!!!! 3) durma com os ouvidos abertos e o celular ligado! 4) não compre imóvel da Plaenge confiando na ética, seriedade e profissionalismo da empresa. Por fora bela viola, por dentro pão bolorento! 4) você só precisa de uma legging preta no seu guarda roupas! 4) devemos repensar nossas prioridades e 5) os empresários não podem continuar buscando lucros à custa de vidas” – Maria Clara Vilela – 17.10.2014

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Carta ao papai João Félix


Nosso João Félix, essa hora você voa pra concretizar mais um sonho. Seus meninos anjos sonham, literalmente. E eu com o coração apertado, num misto de alegria, vazio, felicidade, cansaço pela noite mal dormida, cá estou, a eternizar esse momento único na sua vida. E escolhi o que o toca mais profundamente, a fala dos seus próprios frutos mais doces, pra falar sobre o pai formidável que eles sabiamente escolheram.


Ele pode ser um garoto de somente sete anos, mas tem percepção linda sobre o paizão 

Ele segue os passos do pai, até no Inglês. Essa genética é forte mesmo.

O caminho que ensina a eles é o melhor: o da retidão de caráter.

Esse dia marcou a vida do nosso caçula, e me tira água dos olhos ao me lembrar da tamanha felicidade. Ele jamais imaginou que um pai tão ocupado quanto você iria arrumar um tempo somente, exclusivamente pra pegá-lo na escola. Foram os cinco minutos mais felizes e marcantes da vida do nosso pequeno grande homem JP. E você? Ah, você, nos surpreende a cada dia!

Talvez essa será a foto mais importante pra ela na primeira infância. Aquela mochila jogada ao chão de tanta felicidade, ficará pra sempre em nosso coração.

Olha o peito estufado de orgulho ao mostrar pra professora Cris, que yes, o papai veio!

E valeu até mesmo se jogar no chão de tanta alegria

 Seu exemplo é tudo!

Ficou surpreso com tantos elogios?

É, papai João, nosso domingo do Dia dos Pais foi emocionante, do começo ao fim, ficamos nós quatro, curtindo cada olhar, cada abraço, nos apoiando nas lágrimas, que foram muitas. Afinal, foi um domingo emblemático. A gente sabe a chaga aberta em seu coração, faz muito pouco tempo da partida dele, mas também sabemos que foi somente fisicamente, mais que nunca ele está orgulhoso pelo filhão Doutor, daqui a dois dias, literalmente. A gente tentou mostrar a você o tamanho de sua importância em nossa vida. Esperamos ter conseguido ao menos um pouquinho do que você merece.

Amém


Como explicar ele tão pequeno colocar a música que é a cara do avô?

Sim, com a benção de Deus

Essa imagem  vale mais que um diamante de maior quilate

Você nem precisa de legenda, é o nosso paizão!

Tudo ficou mais doce com o capricho dos produtos do belo projeto Atelier da Fazenda

Vale a pena até se esconder antes de entregar o presente

Até a mangueira do nosso quintal amanheceu florida e cheirosa, um buquê gigante pra você.

Até sinto o calor desse amor. E por falar em amor, acabo de ouvir nosso grandão batendo a porta do banheiro. Ainda são 5h22 da manhã, e ele pronto pra enfrentar mais uma semana. Aprendeu direitinho a lição com o super papai.

E o super papai aprendeu direitinho com seus ancestrais, que não poderiam deixar de ser lembrados neste domingo especial. Aos papais Severino e Pedro e à mamãe Isaura, obrigada por abençoar a gente no plano terreno. Obrigada por nos direcionar ao caminho do Bem, do amor, da luta. E viva você, que tem o mais importante título: doutor em humanidade e humildade. Com todo carinho que possa imaginar. Dos seus filhotes Pedro, João Pedro e eu.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Conhece?


Neste lugar você encontra sensibilidade, cultura, arte e harmonia. Venha conhecer: Rua 24 de Outubro, 937, Espaço Magnólia, Cuiabá, Mato Grosso. Foto: Dayanne Costa.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Óculos retrô invadem Feirinha Magnólia Cuiabana!


Imagine armações de óculos da década de 50, 60, 70, de várias partes da Europa disponíveis na feirinha mais charmosa da cidade. Então deixe de sonhar, é verdade! Neste sábado a ultra fashion Kathianne Benevides, da Minnaloushe Minna, vem apresentar sua coleção de mais de 400 óculos retrô na Feirinha Magnólia Cuiabana.

Ela, que tem em sua coleção particular 180 pares, vai apresentar óculos das mais diversas marcas, estilos, cores. Todos com uma história peculiar. E os preços são bem convidativos, sempre abaixo dos R$ 50, raramente ultrapassa isso. Em média, custam R$ 30.

Então, venha conhecer toda essa lindeza. Das 9 h às 19 horas, na Rua 24 de Outubro, 937, Espaço Magnólia. Fone: 3054.3346.


A enigmática colecionista Kathianne Benevides
Até o meu quis se juntar aos dela, mas não foi aceito...


Apenas um aperitivo

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Adriana Milano, sobrenome Bendito Santo!




Por: Creuza Medieros

Adriana Milano é paranaense de nascimento e cuiabana de coração. Desde criança é arteira desenhista. Se na escola primária precisavam de cartazes, ela era a escolhida pra desenhar.
Durante boa parte de sua vida adulta, Adriana trabalhou em agência de turismo, mas há noves  anos, por uma quase brincadeira,  começou a se dedicar à arte religiosa. “Comecei a fazer relicários com caixas de leite para dar de presente. A aceitação foi boa e virou negócio”, revela Adriana.

De onde vem a relação estreita com o mundo dos santos? Adriana sempre gostou de consultar mapa astral e de lá vem a explicação. “Sempre que estudei sobre mim, foi revelada minha forte ligação com o mundo místico, espiritual”.

Dona de um senso estético apurado, a começar por seu jeito harmônico de se vestir, a artista conta que sua fonte de inspiração vem da poesia e das imagens que colhe em revistas, internet e no cotidiano.

Como todo artista tem fases, a atual é uma das mais férteis da Adriana. Dos relicários para os colares santos só muda o objeto, mas o capricho e a religiosidade do cuiabano é revelado com primor pelas mãos benditas da artista. O seu ateliê se chama Bendito Santo, nada mais perfeito pra quem sabe de cor e salteado sobre todos os santos e seus milagres.

Serviço: Ateliê Bendito Santo – Rua Pedro Celestino, n. 434, Largo da Mandioca, Centro Histórico. Fone: (65) 3321.3338. E-mail: drikamilano@hotmail.com. Website: http//benditosanto.blogspot.com



quarta-feira, 25 de junho de 2014

Onng, pioneira da moda sustentável cuiabana







Por: Creuza Medeiros

A marca Onng foi lançada em 31 de outubro de 2003, com o intuito de vender  roupas despojadas, ecológicas e confortáveis. De origem familiar, a marca foi pioneira no quesito sustentabilidade. A principal característica da loja é a comercialização de produtos ecologicamente corretos, utilizando apenas fibras naturais, sementes, tecido reciclado de garrafas Pet, algodão colorido natural, algodão orgânico, bambu, couro vegetal, câmera de pneus, entre outros.

Um dos idealizadores da marca, Paulo Melo, conta que, há dez anos, não foi  fácil desbravar esse universo totalmente novo na cidade. “As pessoas não tinham hábito de se preocupar com o conceito sustentável, tivemos um longo caminho a percorrer”.

O empresário lembra que no início foram produzidas somente 100 camisetas com a marca própria e ainda com temor da mercadoria ficar encalhada. Dez anos depois são feitas mil camisetas ao mês e todas idealizadas e assinadas pela própria Onng. Uma das principais dificuldades apontadas é a falta de fornecedores, já que a maioria dos produtos é feita de forma artesanal ou em baixa escala industrial.

Atualmente a marca Onng conta com duas lojas próprias em dois shoppings da capital. Mas, por que a marca investe em moda cultural? “Em Cuiabá a ligação do público é muito forte com a música, arte, teatro e shows. Nós valorizamos nossa cultura”, atesta Paulo. Para ele, o diferencial  é que o cuiabano é apaixonado por sua cidade, “ele ama ser daqui”, afirma.

A cultura local é valorizada até nas sacolas da loja, ao ano, dois artistas locais são apresentados e viajam pelo mundo via Onng. Com persistência, a marca vem demonstrando ser possível aliar moda e sustentabilidade  de forma elegante. Foi uma tacada certeira a ligação da palavra Onng com o conceito das organizações governamentais, que no início, eram exclusivas da luta pela preservação ambiental. A Onng é uma pioneira que continua fazendo história em Cuiabá. E lançado tendências.
 
Serviço: Cuiabá - MT - Brasil.
Loja 1 - Shopping 3 Américas - Piso Térreo  |   65 3023-4975
Loja 2 - Pantanal Shopping - Piso 1  |  65 3023-4976
email:
onng@terra.com.br
Site: http://www.onng.com.br


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Ateliê Luiz Pita, estética apurada e excêntrica









Por: Creuza Medeiros

 

O cuiabano Luiz Pita é um inquieto por natureza. Correu da Moda, mas finalmente descobriu ser ela sua vocação primeira. A criação é seu ponto alto, sempre produz looks excêntricos, com forte presença de formas geométricas.Suas inspirações primeiras são Jean Paul Gaultier e Alexandre Herchcovitch. Após estudos e trabalhos em São Paulo, Luiz Pita retorna a Cuiabá pra emprestar à sua terra natal sua criatividade. No currículo do estilista constam o primeiro lugar no Concurso Staroup 50 anos; finalista do concurso Fashion Design, entre outros. Pita tem visão abrangente sobre moda, ele entende ser o pensamento da pessoa manifestado pela roupa, que é a complementação do seu comportamento. "A moda une ou afasta", pontua. 

A inspiração em suas criações vem das ruas, do comportamento humano. “Meu feeling está no ar”. Ele também está sempre atento aos sentimentos, atitudes, arquitetura, cultura, caos, beleza. Em síntese, se inspira em tudo que contribui para a criação de um novo conceito. “As minhas criações são peças que tem alma, falam por si,  se comunicam com a pessoa que a veste dando vida a algum personagem que ela esteja querendo viver ou representar”, declara Pita. 

As características principais de suas criações: Peças com estruturas, linhas orgânicas, modelagem apurada, que chama o espectador a passear seus olhos por suas linhas, ângulos e recortes. Olhar apurado para os detalhes, acabamentos e riqueza nos tecidos e cortes.A criatividade de Luiz Pita encontrou a personalidade da estilista e professora de Moda, Joana Resende, mestra em marcas de luxo. Ela morou por quase um ano na China, Itália e França estudando moda.A afinidade dos dois resultou em vários projetos para o presente e futuro. 

 

A moda com cara de arte é um dos sonhos em comum dos dois amigos, que já prestam consultoria para vários segmentos em Cuiabá e tem projetos que prometem mexer com a moda na cidade. Os dois apostam na moda como instrumento para consagrar a identidade de um território e de seu povo. Joana é crítica com a moda da estação. “Fico encantada com a interpretação individual das tendências, mas ainda acho pouco perceber a transpiração do “medo” por baixo das “armaduras”, revelou em entrevista recente.

Serviço: Supernova – Estúdio de Inovação – Av. São Sebastião, 1905, Goiabeiras. Telefones: (65) 9972.3560 e 9691.3685. Facebook:  Luiz Pita e Joana de Resende Assunção

domingo, 15 de junho de 2014

Estilista Savana Leão: brasilidade é sua paixão











Fotos Rildo Amorim

Texto: Creuza Medeiros

Savana nasceu em Corumbá, até então Mato Grosso. Mas logo depois de ter vindo pra Mato Grosso, o estado foi dividido, em 1977. Os pais são de Fama, Sul de Minas Gerais. A mãe, Maria das Graças, é farmacêutica e pesquisadora. E parece ter vindo do pai o talento artístico da estilista. Sidney Afonso compõe, toca e canta.

O nome artístico foi escolhido pela mãe quando estava grávida, num romance. Pronto, o nome nem precisou ser revisitado, saiu da certidão de nascimento direto para a etiqueta de sua grife. Mas, a infância simples foi decisiva para as escolhas de Savana. Dos sete aos 14 anos ela morou em Cáceres, na beira do Rio Paraguai, onde sua ocupação era ir pra escola e curtir o remanso do rio. Como era tímida, encontrou um jeito de falar por meio dos desenhos. “Sempre adorei técnicas manuais”, revela.

Sua memória mais antiga se recorda da primeira magia com a costura. Aos nove anos, brincava com uma amiga e saiu uma linda boneca de papel, com papéis coloridos e estampas, era uma roupa para a boneca Barbie. E logo  Savana começou a atacar silenciosamente e misteriosamente as toalhas de estimação da mãe Maria das Graças. Coitada, a mãe achava lindas as roupinhas novas das bonecas de Savana, mal sabia que eram suas toalhas históricas. O que aconteceu quando a mãe descobriu a travessura da menina? Nada. “Ela serviu de combustível aos meus sonhos. O fato virou piada”, recorda Savana.

Depois disso Savana passou a vender vestidos para as bonecas das amigas e nunca mais parou. A mãe comprou uma máquina de costurar a mão (que ela tem até hoje), mas as pilhas não duravam nada. A ansiedade para ver as roupinhas prontas era tanta que Savana costurava a mão mesmo.

Aos quinze anos conheceu seu primeiro namorado, mas não durou muito, em seu tempo livre Savana preferia costurar a namorar. Na verdade, o  primeiro sonho de Savana foi ser bailarina, como não tinha dinheiro pra pagar o curso, sabe qual foi a saída? Costurar as roupas de bailarina para as amigas e ganhar uns trocados. As saias rodadas de tule com cintura de elástico estão vivíssimas na memória dela.

Daí veio customização de camisetas para as amigas na escola. Ela comprava uma peça a sete reais, escrevia frases, colocava detalhes e vendia a R$ 13. Mesmo passados 20 anos, a estilista lembra desses mínimos detalhes. Aos dez anos, ela se matriculou num Curso de Corte e Costura, mas não aguentou a monotonia dos mesmos riscos repetidas vezes e resolveu fazer pelo curso à distância, que vinha pelos Correios. E deu certo.

Embora a mãe de Savana não tenha se dedicado tanto à costura, um fato foi marcante na vida dela e da filha, agora estilista. Dona Maria das Graças, aos 18 anos, tinha um baile de formatura pra ir, mas não tinha roupa nova. A avó de Savana, sem grana pra comprar, consentiu que a filha fizesse uma roupa, e sabe de onde veio o tecido? De sua cortina de renda amarela. A vontade  de ir à festa foi maior, mesmo sem saber técnicas, a mãe da estilista  passou um dia transformando a cortina num elogiado vestido. “Foi um vestido tomara que caia com fitas e babados”, conta Savana, orgulhosa.

Casamento, profissão e filhos – Em 1996 um fato novo mudou a vida de Savana. Então morando em Mirassol D´Oeste, cursando o terceiro ano do Ensino Médio, ela conheceu seu marido, Flávio Fachone,  já então promotor de Justiça. Foram dois anos de namoro, veio o casamento e a mudança pra Cuiabá, onde Savana teve o filho William, 15 anos, e a filhota Julia, 13.

Por influência do marido, ela fez Direito e chegou a trabalhar durante cinco meses como advogada e cinco meses como assessora, mas não tinha jeito, era a arte manual que falava mais forte. Após estudar um ano inteiro pra um concurso da defensoria e ter sido reprovada, Savana  entrou em depressão. E, a saída veio com o Curso de Moda. “Aí me encontrei, foi fácil porque eu já desenhava e produzia, só aprendi as técnicas e conceitos”.

E logo depois da formatura ela fez Mestrado em Design, Arte e Moda na Faculdade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Foram dois anos de dedicação, sendo que no primeiro ela viajou dois mil quilômetros todas as semanas pra frequentar as aulas. E mais uma vez o companheiro Flávio cuidou das crianças pra ela realizar o sonho de ser uma estilista renomada.

Savana é uma estilista defensora da personalização. “Faço a modelagem no corpo da cliente, é uma verdadeira arquitetura da roupa, sou contra a massificação”.
Adepta de Chanel, Savana tem como “uniforme” preferido o preto e branco, ela é daquele tipo chique mesmo sem um batom e com chinelo nos pés. É uma clássica despojada. Savana conta que sua costura preferida é um vestido preto, solto, tipo kaftan e que fica bem em qualquer corpo. “O diferencial vem  com o acessório”.

A estilista é uma estudiosa inveterada, passa praticamente 24 horas em busca de inspiração na arte, pesquisa tudo sobre moda na internet e até faz curso de bordado e tricô pela rede.
Para facilitar o trabalho, o ateliê dela é exatamente ao lado do quarto. Mas engana-se quem acha que Savana não se arruma para trabalhar. Atrás da porta do ateliê ficam impecavelmente organizados seus colares. Ela sai com sua peça básica e se transforma com o poder dos acessórios.

O lazer preferido da estilista é o trabalho. A brasilidade é sua referência maior. A inspiração? “Busco na arte e cultura”. Meu ícone maior da moda é Coco Chanel e no Brasil o Ronaldo Fraga. “Na cultura encontro inspiração para meu trabalho. Nela me deparo com hábitos e costumes de uma geração inteira. As memórias e histórias de vida me encantam e me instigam a investigar cada vez mais. A riqueza do encontro fantástico entre o passado e o futuro de um grupo”, revela.

E os vestidos estão registrados de forma profunda na vida de Savana. Quando foi buscar o vestido escolhido pra seu casamento, tinha sido alugado para outra noiva, mas não é de ver que o brinco de pérola presente do marido combinava mesmo era com o vestido da outra noiva? E assim ela foi feliz se casar com o vestido de outra. E deu sorte. De sonho em sonho Savana vem alcançando seu objetivo de ser uma estilista conceituada. Todo seu conhecimento já é compartilhado com crianças que fazem curso de desenho em seu ateliê.


No dia da entrevista, uma segunda de manhã, como boa descendente de mineiros, a estilista Savana Leão nos esperava com uma mesa repleta de gostosuras. Antes de começar a entrevista, tratou de colocar um belo par de brincos de pérolas, exatamente como Chanel, sua referência máxima de elegância.


Savana é sempre vibrante como o amarelo da cortina de renda de sua avó e elegante como o branco e preto de Chanel.


Serviço: O Ateliê Savana Leão fica na Avenida Itália, 905, Cuiabá, Mato Grosso. E-mail: ateliersavanaleao@gmail.com. Website: www.savanaleao.com.br. Facebook: Ateliê Savana Leão. Fone: (65) 9972.7928.