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domingo, 15 de junho de 2014

Estilista Savana Leão: brasilidade é sua paixão











Fotos Rildo Amorim

Texto: Creuza Medeiros

Savana nasceu em Corumbá, até então Mato Grosso. Mas logo depois de ter vindo pra Mato Grosso, o estado foi dividido, em 1977. Os pais são de Fama, Sul de Minas Gerais. A mãe, Maria das Graças, é farmacêutica e pesquisadora. E parece ter vindo do pai o talento artístico da estilista. Sidney Afonso compõe, toca e canta.

O nome artístico foi escolhido pela mãe quando estava grávida, num romance. Pronto, o nome nem precisou ser revisitado, saiu da certidão de nascimento direto para a etiqueta de sua grife. Mas, a infância simples foi decisiva para as escolhas de Savana. Dos sete aos 14 anos ela morou em Cáceres, na beira do Rio Paraguai, onde sua ocupação era ir pra escola e curtir o remanso do rio. Como era tímida, encontrou um jeito de falar por meio dos desenhos. “Sempre adorei técnicas manuais”, revela.

Sua memória mais antiga se recorda da primeira magia com a costura. Aos nove anos, brincava com uma amiga e saiu uma linda boneca de papel, com papéis coloridos e estampas, era uma roupa para a boneca Barbie. E logo  Savana começou a atacar silenciosamente e misteriosamente as toalhas de estimação da mãe Maria das Graças. Coitada, a mãe achava lindas as roupinhas novas das bonecas de Savana, mal sabia que eram suas toalhas históricas. O que aconteceu quando a mãe descobriu a travessura da menina? Nada. “Ela serviu de combustível aos meus sonhos. O fato virou piada”, recorda Savana.

Depois disso Savana passou a vender vestidos para as bonecas das amigas e nunca mais parou. A mãe comprou uma máquina de costurar a mão (que ela tem até hoje), mas as pilhas não duravam nada. A ansiedade para ver as roupinhas prontas era tanta que Savana costurava a mão mesmo.

Aos quinze anos conheceu seu primeiro namorado, mas não durou muito, em seu tempo livre Savana preferia costurar a namorar. Na verdade, o  primeiro sonho de Savana foi ser bailarina, como não tinha dinheiro pra pagar o curso, sabe qual foi a saída? Costurar as roupas de bailarina para as amigas e ganhar uns trocados. As saias rodadas de tule com cintura de elástico estão vivíssimas na memória dela.

Daí veio customização de camisetas para as amigas na escola. Ela comprava uma peça a sete reais, escrevia frases, colocava detalhes e vendia a R$ 13. Mesmo passados 20 anos, a estilista lembra desses mínimos detalhes. Aos dez anos, ela se matriculou num Curso de Corte e Costura, mas não aguentou a monotonia dos mesmos riscos repetidas vezes e resolveu fazer pelo curso à distância, que vinha pelos Correios. E deu certo.

Embora a mãe de Savana não tenha se dedicado tanto à costura, um fato foi marcante na vida dela e da filha, agora estilista. Dona Maria das Graças, aos 18 anos, tinha um baile de formatura pra ir, mas não tinha roupa nova. A avó de Savana, sem grana pra comprar, consentiu que a filha fizesse uma roupa, e sabe de onde veio o tecido? De sua cortina de renda amarela. A vontade  de ir à festa foi maior, mesmo sem saber técnicas, a mãe da estilista  passou um dia transformando a cortina num elogiado vestido. “Foi um vestido tomara que caia com fitas e babados”, conta Savana, orgulhosa.

Casamento, profissão e filhos – Em 1996 um fato novo mudou a vida de Savana. Então morando em Mirassol D´Oeste, cursando o terceiro ano do Ensino Médio, ela conheceu seu marido, Flávio Fachone,  já então promotor de Justiça. Foram dois anos de namoro, veio o casamento e a mudança pra Cuiabá, onde Savana teve o filho William, 15 anos, e a filhota Julia, 13.

Por influência do marido, ela fez Direito e chegou a trabalhar durante cinco meses como advogada e cinco meses como assessora, mas não tinha jeito, era a arte manual que falava mais forte. Após estudar um ano inteiro pra um concurso da defensoria e ter sido reprovada, Savana  entrou em depressão. E, a saída veio com o Curso de Moda. “Aí me encontrei, foi fácil porque eu já desenhava e produzia, só aprendi as técnicas e conceitos”.

E logo depois da formatura ela fez Mestrado em Design, Arte e Moda na Faculdade Anhembi Morumbi, em São Paulo. Foram dois anos de dedicação, sendo que no primeiro ela viajou dois mil quilômetros todas as semanas pra frequentar as aulas. E mais uma vez o companheiro Flávio cuidou das crianças pra ela realizar o sonho de ser uma estilista renomada.

Savana é uma estilista defensora da personalização. “Faço a modelagem no corpo da cliente, é uma verdadeira arquitetura da roupa, sou contra a massificação”.
Adepta de Chanel, Savana tem como “uniforme” preferido o preto e branco, ela é daquele tipo chique mesmo sem um batom e com chinelo nos pés. É uma clássica despojada. Savana conta que sua costura preferida é um vestido preto, solto, tipo kaftan e que fica bem em qualquer corpo. “O diferencial vem  com o acessório”.

A estilista é uma estudiosa inveterada, passa praticamente 24 horas em busca de inspiração na arte, pesquisa tudo sobre moda na internet e até faz curso de bordado e tricô pela rede.
Para facilitar o trabalho, o ateliê dela é exatamente ao lado do quarto. Mas engana-se quem acha que Savana não se arruma para trabalhar. Atrás da porta do ateliê ficam impecavelmente organizados seus colares. Ela sai com sua peça básica e se transforma com o poder dos acessórios.

O lazer preferido da estilista é o trabalho. A brasilidade é sua referência maior. A inspiração? “Busco na arte e cultura”. Meu ícone maior da moda é Coco Chanel e no Brasil o Ronaldo Fraga. “Na cultura encontro inspiração para meu trabalho. Nela me deparo com hábitos e costumes de uma geração inteira. As memórias e histórias de vida me encantam e me instigam a investigar cada vez mais. A riqueza do encontro fantástico entre o passado e o futuro de um grupo”, revela.

E os vestidos estão registrados de forma profunda na vida de Savana. Quando foi buscar o vestido escolhido pra seu casamento, tinha sido alugado para outra noiva, mas não é de ver que o brinco de pérola presente do marido combinava mesmo era com o vestido da outra noiva? E assim ela foi feliz se casar com o vestido de outra. E deu sorte. De sonho em sonho Savana vem alcançando seu objetivo de ser uma estilista conceituada. Todo seu conhecimento já é compartilhado com crianças que fazem curso de desenho em seu ateliê.


No dia da entrevista, uma segunda de manhã, como boa descendente de mineiros, a estilista Savana Leão nos esperava com uma mesa repleta de gostosuras. Antes de começar a entrevista, tratou de colocar um belo par de brincos de pérolas, exatamente como Chanel, sua referência máxima de elegância.


Savana é sempre vibrante como o amarelo da cortina de renda de sua avó e elegante como o branco e preto de Chanel.


Serviço: O Ateliê Savana Leão fica na Avenida Itália, 905, Cuiabá, Mato Grosso. E-mail: ateliersavanaleao@gmail.com. Website: www.savanaleao.com.br. Facebook: Ateliê Savana Leão. Fone: (65) 9972.7928.